Separação da alma e do
corpo
154. É dolorosa a
separação da alma e do corpo?
“Não; o corpo quase sempre
sofre mais durante a vida do que no momento da morte; a alma nenhuma parte toma
nisso. Os sofrimentos que algumas vezes se experimentam no instante da morte são um
gozo para o Espírito, que vê chegar o termo do seu exílio.”
Na morte natural, a que
sobrevém pelo esgotamento dos órgãos, em conseqüência da idade, o homem
deixa a vida sem o perceber: é uma lâmpada que se apaga por falta de óleo.
155. Como se opera a
separação da alma e do corpo?
“Rotos os laços que a
retinham, ela se desprende.”
a) - A separação se dá
instantaneamente por brusca transição? Haverá alguma linha de demarcação
nitidamente traçada entre a vida e a morte?
“Não; a alma se desprende
gradualmente, não se escapa como um pássaro cativo a que se restitua subitamente
a liberdade. Aqueles dois estados se tocam e confundem, de sorte que o Espírito se
solta pouco a pouco dos laços que o prendiam. Estes laços se desatam, não se quebram.”
Durante a vida, o Espírito
se acha preso ao corpo pelo seu envoltório semimaterial ou perispírito. A morte é a
destruição do corpo somente, não a desse outro invólucro, que do corpo se separa quando
cessa neste a vida orgânica. A observação demonstra que, no instante da morte, o
desprendimento do perispírito não se completa subitamente; que, ao contrário, se opera
gradualmente e com uma lentidão muito variável conforme os indivíduos. Em uns é
bastante rápido, podendo dizer-se que o momento da morte é mais ou menos o da libertação. Em
outros, naqueles sobretudo cuja vida toda material e sensual, o desprendimento é muito menos
rápido, durando algumas vezes dias, semanas e até meses, o que não implica existir, no
corpo, a menor vitalidade, nem a possibilidade de volver à vida, mas uma simples afinidade
com o Espírito, afinidade que guarda sempre proporção com a preponderância que, durante
a vida, o Espírito deu à matéria. É, com efeito, racional conceber-se que, quanto mais
o Espírito se haja identificado com a matéria, tanto mais penoso lhe seja separar-se
dela; ao passo que a atividade intelectual e moral, a elevação dos pensamentos operam um começo
de desprendimento, mesmo durante a vida do corpo, de modo que, em chegando a
morte, ele é quase instantâneo. Tal o resultado dos estudos feitos em todos os indivíduos que
se têm podido observar por ocasião da morte. Essas observações ainda provam que
a afinidade, persiste entre a alma e o corpo, em certos indivíduos, é, às vezes,
muito penosa, porquanto o Espírito pode experimentar o horror da decomposição. Este caso,
porém, é excepcional e peculiar a certos gêneros de vida e acertos gêneros de morte.
Verifica-se com alguns suicidas.
156. A separação
definitiva da alma e do corpo pode ocorrer antes da cessação completa da vida
orgânica?
“Na agonia, a alma, algumas
vezes, já tem deixado o corpo; nada mais há que a vida orgânica. O homem já não tem
consciência de si mesmo; entretanto, ainda lhe resta um sopro de vida orgânica. O
corpo é a máquina que o coração põe em movimento. Existe, enquanto o coração faz
circular nas veias o sangue, para o que não necessita da alma.”
157. No momento da morte,
a alma sente, alguma vez, qualquer aspiração ou êxtase que lhe faça entrever o
mundo onde vai de novo entrar?
“Muitas vezes a alma sente
que se desfazem os laços que a prendem ao corpo. Entrega então todos os
esforços para desfazê-los inteiramente. Já em parte desprendida da matéria, vê o futuro
desdobrar-se diante de si e goza, por antecipação, do estado de Espírito.”
158. O exemplo da lagarta
que, primeiro, anda de rastos pela terra, depois se encerra na sua crisálida
em estado de morte aparente, para enfim renascer com uma existência brilhante,
pode dar-nos idéia da vida terrestre, do túmulo e, finalmente, da nossa nova existência?
“Uma idéia acanhada. A
imagem é boa; todavia, cumpre não seja tomada ao pé da letra, como freqüentemente
vos sucede.”
159. Que sensação
experimenta a alma no momento em que reconhece estar no mundo dos Espíritos?
“Depende. Se praticasse o
mal, impelido pelo desejo de o praticar, no primeiro momento te sentirás
envergonhado de o haveres praticado. Com a alma do justo as coisas se passam de modo bem
diferente. Ela se sente como que aliviada de grande peso, pois que não teme nenhum olhar
perscrutador.”
160. O Espírito se
encontra imediatamente com os que conheceu na Terra e que morreram antes dele?
“Sim, conforme à afeição que
lhes votava e a que eles lhe consagravam. Muitas vezes aqueles seus
conhecidos o vêm receber à entrada do mundo dos Espíritos e o ajudam a desligar-se das faixas
da matéria. Encontra-se também com muitos dos que conheceu e perdeu de vista durante a
sua vida terrena. Vê os que estão na erraticidade, como vê os encarnados e os vai
visitar.”
161. Em caso de morte
violenta e acidental, quando os órgãos ainda se não enfraqueceram em
conseqüência da idade ou das
moléstias, a separação da alma e a cessação da vida ocorrem simultaneamente?
“Geralmente assim é; mas, em
todos os casos, muito breve é o instante que medeia entre uma e outra.”
162. Após a decapitação,
por exemplo, conserva o homem por alguns instantes a consciência de si mesmo?
“Não raro a conserva durante
alguns minutos, até que a vida orgânica se tenha extinguido completamente.
Mas, também, quase sempre a apreensão da morte lhe faz perder aquela consciência
antes do momento do suplício.”
Trata-se aqui da consciência
que o supliciado pode ter de si mesmo, como homem e por intermédio dos órgãos, e
não como Espírito. Se não perdeu essa consciência antes do suplício, pode conservá-la
por alguns breves instantes. Ela, porém, cessa necessariamente com a vida orgânica do
cérebro, o que não quer dizer que o perispírito esteja inteiramente separado do corpo. Ao
contrário: em todos os casos de morte violenta, quando a morte não resulta da extinção gradual
das forças vitais, mais tenazes são os laços que prendem o corpo ao perispírito e, portanto,
mais lento o desprendimento completo.
Perturbação espiritual
163. A alma tem
consciência de si mesma imediatamente depois de deixar o corpo?
“Imediatamente não é bem o
termo. A alma passa algum tempo em estado de perturbação.”
164. A perturbação que se
segue à separação da alma e do corpo é do mesmo grau e da mesma duração para
todos os Espíritos?
“Não; depende da elevação de
cada um. Aquele que já está purificado, se reconhece quase imediatamente, pois
que se libertou da matéria antes que cessasse a vida do corpo, enquanto que o homem carnal,
aquele cuja consciência ainda não está
pura, guarda por muito mais tempo a impressão da matéria.”
165. O conhecimento do
Espiritismo exerce alguma influência sobre a duração, mais ou menos longa, da
perturbação?
“Influência muito grande,
por isso que o Espírito já antecipadamente compreendia a sua situação. Mas, a prática
do bem e a consciência pura são o que maior influência exercem.”
Por ocasião da morte, tudo,
a princípio, é confuso. De algum tempo precisa a alma para entrar no conhecimento
de si mesma. Ela se acha como que aturdida, no estado de uma pessoa que despertou de
profundo sono e procura orientar-se sobre a sua situação. A lucidez das idéias e a memória do
passado lhe voltam, à medida que se apaga a influência da matéria que ela acaba de
abandonar, e à medida que se dissipa a espécie de névoa que lhe obscurece os pensamentos.
Muito variável é o tempo que
dura a perturbação que se segue à morte. Pode ser de algumas horas, como também
de muitos meses e até de muitos anos. Aqueles que, desde quando ainda viviam na
Terra, se identificaram com o estado futuro que os aguardava, são os em quem menos longa ela
é, porque esses compreendem imediatamente a posição em que se encontram.
Aquela perturbação apresenta
circunstâncias especiais, de acordo com os caracteres dos indivíduos e,
principalmente, com o gênero de morte. Nos casos de morte violenta, por suicídio, suplício,
acidente, apoplexia, ferimentos, etc., o Espírito fica surpreendido, espantado e não acredita
estar morto. Obstinadamente sustenta que não o está. No entanto, vê o seu próprio corpo,
reconhece que esse corpo é seu, mas não compreende que se ache separado dele. Acerca-se das
pessoas a quem estima, fala-lhes e não percebe por que elas não o ouvem. Semelhante
ilusão se prolonga até ao completo desprendimento do perispírito. Só então o
Espírito se reconhece como tal e compreende que não pertence mais ao número dos vivos. Este
fenômeno se explica facilmente. Surpreendido de improviso pela morte, o Espírito fica
atordoado com a brusca mudança que nele se operou; considera ainda a morte como sinônimo de
destruição, de aniquilamento. Ora, porque pensa,
vê, ouve, tem a sensação de não estar morto. Mais lhe aumenta a ilusão o fato de se ver com
um corpo semelhante, na forma, ao precedente, mas cuja natureza etérea ainda não
teve tempo de estudar. Julga-o sólido e compacto como o primeiro e, quando se lhe
chama a atenção para esse ponto, admira-se de não poder palpálo.
Esse fenômeno é análogo ao
que ocorre com alguns sonâmbulos inexperientes, que não crêem dormir. É que têm sono
por sinônimo de suspensão das faculdades. Ora, como pensam livremente e vêem,
julgam naturalmente que não dormem. Certos Espíritos revelam essa particularidade, se bem
que a morte não lhes tenha sobrevindo inopinadamente.
Todavia, sempre mais
generalizada se apresenta entre os que, embora doentes, não pensavam em morrer.
Observa-se então o singular espetáculo de um Espírito assistir ao seu próprio enterramento como se
fora o de um estranho, falando desse ato como de coisa que lhe não diz respeito, até ao
momento em que compreende a verdade.
A perturbação que se segue à
morte nada tem de penosa para o homem de bem, que se conserva calmo,
semelhante em tudo a quem acompanha as fases de um tranqüilo despertar. Para aquele cuja
consciência ainda não está pura, a perturbação é cheia de ansiedade e de angústias,
que aumentam à proporção que ele da sua situação se compenetra.
Nos casos de morte coletiva,
tem sido observado que todos os que perecem ao mesmo tempo nem sempre
tornam a ver-se logo. Presas da perturbação que se segue à morte, cada um vai para seu
lado, ou só se preocupa com os que lhe interessam.
CAPÍTULO IV
DA PLURALIDADE DAS EXISTÊNCIAS
1. A reencarnação. - 2.
Justiça da reencarnação. - 3. Encarnação nos diferentes mundos. - 4. Transmigração
progressiva. - 5. Sorte das crianças após a morte. - 6. Sexos nos Espíritos. - 7.
Parentesco, filiação, - 8. Parecenças físicas e morais. - 9. Idéias
inatas.
A reencarnação
166. Como pode a alma,
que não alcançou a perfeição durante a vida corpórea, acabar de depurar-se?
“Sofrendo a prova de uma
nova existência.”
a) - Como realiza essa
nova existência? Será pela sua transformação como Espírito?
“Depurando-se, a alma
indubitavelmente experimenta uma transformação, mas para isso necessária lhe é a
prova da vida corporal.”
b) - A alma passa então
por muitas existências corporais?
“Sim, todos contamos muitas
existências. Os que dizem o contrário pretendem manter-vos na ignorância em
que eles próprios se encontram. Esse o desejo deles.”
c) - Parece resultar
desse princípio que a alma, depois de haver deixado um corpo, toma outro, ou, então,
que reencarna em novo corpo. E assim que se deve entender?
“Evidentemente.”
167. Qual o fim
objetivado com a reencarnação?
“Expiação, melhoramento
progressivo da Humanidade. Sem isto, onde a justiça?”
168. É limitado o número
das existências corporais, ou o Espírito reencarna perpetuamente?
“A cada nova existência, o
Espírito dá um passo para diante na senda do progresso. Desde que se ache
limpo de todas as impurezas, não tem mais necessidade das provas da vida corporal.”
169. É invariável o
número das encarnações para todos os Espíritos?
“Não; aquele que caminha
depressa, a muitas provas se forra. Todavia, as encarnações sucessivas são
sempre muito numerosas, porquanto o progresso é quase infinito.”
170. O que fica sendo o
Espírito depois da sua última encarnação?
“Espírito bem-aventurado;
puro Espírito.”
Justiça da reencarnação
171. Em que se funda o
dogma da reencarnação?
“Na justiça de Deus e na
revelação, pois incessantemente repetimos: o bom pai deixa sempre aberta a seus
filhos uma porta para o arrependimento. Não te diz a razão que seria injusto privar
para sempre da felicidade eterna todos aqueles de quem não dependeu o melhorarem-se?
Não são filhos de Deus todos os homens? Só entre os egoístas se encontram a
iniqüidade, o ódio implacável e os castigos sem remissão.”
Todos os Espíritos tendem
para a perfeição e Deus lhes faculta os meios de alcançá-la,
proporcionando-lhes as provações da vida corporal. Sua justiça, porém,
lhes concede realizar, em novas
existências, o que não puderam fazer ou concluir numa primeira prova.
Não obraria Deus com
eqüidade, nem de acordo com a Sua bondade, se condenasse para sempre os que talvez
hajam encontrado, oriundos do próprio meio onde foram colocados e alheios à
vontade que os animava, obstáculos ao seu melhoramento. Se a sorte do homem se fixasse
irrevogavelmente depois da morte, não seria uma única a balança em que Deus pesa as ações de
todas as criaturas e não haveria imparcialidade no tratamento que a todas dispensa.
A doutrina da reencarnação,
isto é, a que consiste em admitir para o Espírito muitas existências sucessivas, é a
única que corresponde à idéia que formamos da justiça de Deus para com os homens que se
acham em condição moral inferior; a única que pode explicar o futuro e firmar as nossas
esperanças, pois que nos oferece os meios de resgatarmos os nossos erros por novas
provações. A razão no-la indica e os Espíritos a ensinam.
O homem, que tem consciência
da sua inferioridade, haure consoladora esperança na doutrina da reencarnação. Se
crê na justiça de Deus, não pode contar que venha a achar-se, para sempre, em pé de
igualdade com os que mais fizeram do que ele. Sustém-no, porém, e lhe reanima a coragem a
idéia de que aquela inferioridade não o deserda eternamente do supremo bem e que, mediante
novos esforços, dado lhe será conquistá-lo. Quem é que, ao cabo da sua carreira, não
deplora haver tão tarde ganho uma experiência de que já não mais pode tirar proveito?
Entretanto, essa experiência tardia não fica perdida; o Espírito a utilizará em nova
existência.
Encarnação nos diferentes
mundos
172. As nossas diversas
existências corporais se verificam todas na Terra?
“Não; vivemo-las em
diferentes mundos. As que aqui passamos não são as primeiras, nem as últimas;
são, porém, das mais materiais e das mais distantes da perfeição.”
173. A cada nova
existência corporal a alma passa de um mundo para o outro, ou pode ter muitas no mesmo
globo?
“Pode viver muitas vezes no
mesmo globo, se não se adiantou bastante para passar a um mundo superior.”
a) - Podemos então
reaparecer muitas vezes na Terra?
“Certamente.”
b) - Podemos voltar a
este, depois de termos vivido em outros mundos?
“Sem dúvida. É possível que
já tenhais vivido algures e na Terra.”
174. - Tornar a viver na
Terra constitui uma necessidade?
“Não; mas, se não
progredistes, podereis ir para outro mundo que não valha mais do que a Terra e que talvez até
seja pior do que ela.”
175. Haverá alguma
vantagem em voltar-se a habitar a Terra?
“Nenhuma vantagem
particular, a menos que seja em missão, caso em que se progride aí como em qualquer
planeta.”
a) - Não se seria mais
feliz permanecendo na condição de Espírito?
“Não, não; estacionar-se-ia
e o que se quer é caminhar para Deus.”
176. Depois de haverem
encarnado noutros mundos, podem os Espíritos encarnar neste, sem que jamais aí
tenham estado?
“Sim, do mesmo modo que vós
em outros. Todos os mundos são solidários: o que não se faz num faz-se
noutro.”
a) - Assim, homens há que
estão na Terra pela primeira vez?
“Muitos, e em graus diversos
de adiantamento.”
b) - Pode-se reconhecer,
por um indício qualquer, que um Espírito está pela primeira vez na Terra?
“Nenhuma utilidade teria
isso.”
177. Para chegar à
perfeição e à suprema felicidade, destino final de todos os homens, tem o Espírito
que passa pela fieira de todos os mundos existentes no Universo?
“Não, porquanto muitos são
os mundos correspondentes a cada grau da respectiva escala e o Espírito, saindo
de um deles, nenhuma coisa nova aprenderia nos outros do mesmo grau.”
a) - Como se explica
então a pluralidade de suas existências em um mesmo globo?
“De cada vez poderá ocupar
posição diferente das anteriores e nessas diversas posições se lhe deparam
outras tantas ocasiões de adquirir experiência.”
178. Podem os Espíritos
encarnar em um mundo relativamente inferior a outro onde já viveram?
“Sim, quando em missão, com
o objetivo de auxiliarem o progresso, caso em que aceitam alegres as
tribulações de tal existência, por lhes proporcionar meio de se adiantarem.”
a) - Mas, não pode dar-se
também por expiação? Não pode Deus degredar para mundos inferiores
Espíritos rebeldes?
“Os Espíritos podem
conservar-se estacionários, mas não retrogradam. Em caso de estacionamento, a punição
deles consiste em não avançarem, em recomeçarem, no meio conveniente à sua natureza,
as existências mal empregadas.”
b) - Quais os que têm de
recomeçar a mesma existência?
“Os que faliram em suas
missões ou em suas provas.”
179. Os seres que habitam
cada mundo hão todos alcançado o mesmo nível de perfeição?
“Não; dá-se em cada um o que
ocorre na Terra: uns Espíritos são mais adiantados do que outros.”
180. Passando deste
planeta para outro, conserva o Espírito a inteligência que aqui tinha?
“Sem dúvida; a inteligência
não se perde. Pode, porém, acontecer que ele não disponha dos mesmos meios
para manifestá-la, dependendo isto da sua superioridade e das condições do corpo que
tomar.” (Veja-se: “Influência do organismo”. cap. VII, para 2ª.)
181. Os seres que habitam
os diferentes mundos têm corpos semelhantes aos nossos?
“É fora de dúvida que têm
corpos, porque o Espírito precisa estar revestido de matéria para atuar sobre a
matéria. Esse envoltório, porém, é mais ou menos material, conforme o grau de pureza a
que chegaram os Espíritos. É isso o que assinala a diferença entre os mundos que temos de
percorrer, porquanto muitas moradas há na casa de nosso Pai, sendo,
conseguintemente, de muitos graus essas moradas. Alguns o sabem e desse
fato têm consciência na Terra;
com outros, no entanto, o mesmo não se dá.”
182. É-nos possível
conhecer exatamente o estado físico e moral dos diferentes mundos?
“Nós, Espíritos, só podemos
responder de acordo com o grau de adiantamento em que vos achais. Quer dizer
que não devemos revelar estas coisas a todos, porque nem todos estão em estado de
compreendê-las e semelhante revelação os perturbaria.”
À medida que o Espírito se
purifica, o corpo que o reveste se aproxima igualmente da natureza espírita.
Torna-se-lhe menos densa a
matéria, deixa de rastejar penosamente pela superfície do solo, menos grosseiras se lhe
fazem as necessidades físicas, não mais sendo preciso que os seres vivos se destruam mutuamente
para se nutrirem. O Espírito se acha mais livre e tem, das coisas longínquas,
percepções que desconhecemos. Vê com os olhos do corpo o que só pelo pensamento entrevemos.
Da purificação do Espírito
decorre o aperfeiçoamento moral, para os seres que eles constituem, quando
encarnados. As paixões animais se enfraquecem e o egoísmo cede lugar ao sentimento da
fraternidade. Assim é que, nos mundos superiores ao nosso, se desconhecem as guerras,
carecendo de objeto os ódios e as discórdias, porque ninguém pensa em causar dano ao seu
semelhante. A intuição que seus habitantes têm do futuro, a segurança que uma
consciência isenta de remorsos lhes dá, fazem que a morte nenhuma apreensão lhes cause.
Encaram-na de frente, sem temor, como simples transformação.
A duração da vida, nos
diferentes mundos, parece guardar proporção com o grau de superioridade física e moral
de cada um, o que é perfeitamente racional. Quanto menos material o corpo, menos
sujeito às vicissitudes que o desorganizam. Quanto mais puro o Espírito, menos paixões a
miná-lo. É essa ainda uma graça da Providência, que desse modo abrevia os sofrimentos.
183. Indo de um mundo
para outro, o Espírito passa por nova infância?
“Em toda parte a infância é
uma transição necessária, mas não é, em toda parte, tão obtusa como no vosso mundo.”
184. Tem o Espírito a
faculdade de escolher o mundo onde passe a habitar?
“Nem sempre. Pode pedir que
lhe seja permitido ir para este ou aquele e pode obtêlo, se o merecer, porquanto a
acessibilidade dos mundos, para os Espíritos, depende do grau da elevação destes.”
a) - Se o Espírito nada
pedir, que é o que determina o mundo em que ele reencarnará?
“O grau da sua elevação.”
185. O estado físico e
moral dos seres vivos é perpetuamente o mesmo em cada minuto?
“Não; os mundos também estão
sujeitos à lei do progresso. Todos começaram, como o vosso, por um estado
inferior e a própria Terra sofrerá idêntica transformação. Tornar-se-á um paraíso,
quando os homens se houverem tornado bons.”
É assim que as raças, que
hoje povoam a Terra, desaparecerão um dia, substituídas por seres cada vez mais
perfeitos, pois que essas novas raças transformadas sucederão às atuais, como estas sucederam
a outras ainda mais grosseiras.
186. Haverá mundos onde o
Espírito, deixando de revestir corpos materiais, só tenha por envoltório o
perispírito?
“Há e mesmo esse envoltório
se torna tão etéreo que para vós é como se não existisse. Esse o estado dos
Espíritos puros.”
a) - Parece resultar daí
que, entre o estado correspondente às últimas encarnações e o de Espírito puro, não
há linha divisória perfeitamente demarcada; não?
“Semelhante demarcação não
existe. A diferença entre ume outro estado se vai apagando pouco a pouco e
acaba por ser imperceptível, tal qual se dá com a noite às primeiras claridades do
alvorecer.”
187. A substância do
perispírito é a mesma em todos os mundos?
“Não; é mais ou menos
etérea. Passando de um mundo a outro, o Espírito se reveste da matéria própria desse
outro, operando-se, porém, essa mudança com a rapidez do relâmpago.”
188. Os Espíritos puros
habitam mundos especiais, ou se acham no espaço universal, sem estarem
mais ligados a um mundo do que a outros?
“Habitam certos mundos, mas
não lhes ficam presos, como os homens à Terra; podem, melhor do que os
outros, estar em toda parte.” (1)
Transmigrações
progressivas
189. Desde o início de
sua formação, goza o Espírito da plenitude de suas faculdades?
“Não, pois que para o
Espírito, como para o homem, também há infância. Em sua origem, a vida do Espírito é
apenas instintiva. Ele mal tem consciência de si mesmo e de seus atos. A inteligência só
pouco a pouco se desenvolve.”
190. Qual o estado da
alma na sua primeira encarnação?
“O da infância na vida
corporal. A inteligência apenas desabrocha: a alma se ensaia para a vida.”
191. As dos nossos
selvagens são almas no estado de infância?
“De infância relativa, pois
já são almas desenvolvidas, visto que já nutrem paixões.”
a) - Então, as paixões
são um sinal de desenvolvimento?
“De desenvolvimento, sim; de
perfeição, porém, não. São sinal de atividade e de consciência do eu,
porquanto, de eletricidade. Todos os
sóis como que estariam em situação análoga.
O volume de cada um e a
distância a que esteja do Sol nenhuma relação necessária guardam com o grau do seu
adiantamento, pois que, do contrário, Vênus deveria ser tida por mais adiantada do que a
Terra e Saturno menos do que Júpiter.
Muitos Espíritos, que na
Terra animaram personalidades conhecidas, disseram estar reencarnados em Júpiter, um
dos mundos mais próximos da perfeição, e há causado espanto que, nesse globo tão
adiantado, estivessem homens a que a opinião geral aqui não atribuía tanta elevação. Nisso nada
há de surpreendente, desde que se atenda a que, possivelmente, certos Espíritos, habitantes
daquele planeta, foram mandados à Terra para desempenharem aí certa missão que, aos
nossos olhos, os não colocava na primeira plana. Em segundo lugar, deve-se atender a
que, entre a existência que tiveram na Terra e a que passaram a ter em Júpiter, podem eles ter
tido outras intermédias, em que se melhoraram. Finalmente, cumpre se considere que,
naquele mundo, como no nosso, múltiplos são os graus de desenvolvimento e que, entre
esses graus, pode medear lá a distância que vai, entre nós, do selvagem ao homem
civilizado. Assim, do fato de um Espírito habitar Júpiter não se segue que esteja no nível dos seres mais
adiantados, do mesmo modo que ninguém pode considerar-se na categoria de um sábio do
Instituto, só porque reside em Paris.
As condições de longevidade
não são, tampouco, em qualquer parte, as mesmas que na Terra e as idades não se
podem comparar. Evocado, um Espírito que desencarnara havia alguns anos, disse que,
desde seis meses antes, estava encarnado em mundo cujo nome nos é desconhecido. Interrogado
sobre a idade que tinha nesse mundo, disse: “Não posso avaliá-la, porque não contamos o tempo
como contais. Depois, os modos de existência não são idênticos. Nós, lá, nos
desenvolvemos muito mais rapidamente. Entretanto, se bem não haja mais de seis dos vossos
meses que lá estou, posso dizer que, quanto à inteligência, tenho trinta anos da idade que
tive na Terra.”
Muitas respostas análogas
foram dadas por outros Espíritos e o fato nada apresenta de inverossímil. Não vemos
que, na Terra, uma imensidade de animais em poucos meses adquire o desenvolvimento
normal? Por que não se poderia dar o mesmo com o homem noutras esferas? Notemos,
além disso, que o desenvolvimento que o homem alcança na Terra aos trinta anos talvez
não passe de uma espécie de infância, comparado com o que lhe cumpre atingir. Bem curto de
vista se revela quem nos toma em tudo por protótipos da criação, assim como é
rebaixar a Divindade o imaginar-se que, fora o homem, nada mais seja possível a Deus.
192. Pode alguém, por um
proceder impecável na vida atual, transpor todos os graus da escala do
aperfeiçoamento e tornar-se Espírito puro, sem passar por outros graus intermédios?
“Não, pois o que o homem
julga perfeito longe está da perfeição. Há qualidades que lhe são desconhecidas e
incompreensíveis. Poderá ser tão perfeito quanto o comporte a sua natureza terrena, mas isso
não é a perfeição absoluta. Dá-se com o Espírito o que se verifica com a criança que, por mais
precoce que seja, tem de passar pela juventude, antes de chegar à idade da madureza; e
também com o enfermo que, para recobrar a saúde, tem que passar pela convalescença. Demais,
ao Espírito cumpre progredir em ciência e em moral. Se somente se adiantou num
sentido, importa se adiante no outro, para atingir o extremo superior da escala. Contudo,
quanto mais o homem se adiantar na
sua vida atual, tanto menos longas e penosas lhe serão as provas que se seguirem.”
a) - Pode ao menos o
homem, na vida presente, preparar com segurança, para si, uma existência futura
menos prenhe de amarguras?
“Sem dúvida. Pode reduzir a
extensão e as dificuldades do caminho. Só o descuidoso permanece
sempre no mesmo ponto.”
193. Pode um homem, nas
suas novas existências, descer mais baixo do que esteja na atual?
“Com relação à posição
social, sim; como Espírito, não.”
194. É possível que, em
nova encarnação, a alma de um homem de bem anime o corpo de um celerado?
“Não, visto que não pode
degenerar.”
a) - A alma de um homem
perverso pode tornar-se a de um homem de bem?
“Sim, se se arrependeu. Isso
constitui então uma recompensa.”
A marcha dos Espíritos é
progressiva, jamais retrograda. Eles se elevam gradualmente na hierarquia e
não descem da categoria a que ascenderam. Em suas diferentes existências
corporais, podem descer como homens, não como Espíritos. Assim, a alma de um potentado da
Terra pode mais tarde animar o mais humilde obreiro e viceversa, por isso que, entre os
homens, as categorias estão freqüentemente, na razão inversa da elevação das qualidades
morais. Herodes era rei e Jesus, carpinteiro.
195. A possibilidade de
se melhorarem noutra existência não será de molde a fazer que certas pessoas
perseverem no mau caminho, dominadas pela idéia de que poderão corrigir-se mais tarde?
“Aquele que assim pensa em
nada crê e a idéia de um castigo eterno não o refrearia mais do que qualquer outra, porque sua razão a repele, e
semelhante idéia induz à incredulidade a respeito de tudo. Se unicamente meios racionais
se tivessem empregado para guiar os homens, não haveria tantos cépticos. De fato, um
Espírito imperfeito poderá, durante a vida corporal, pensar como dizes; mas, liberto que
se veja da matéria, pensará de outro modo, pois logo verificará que fez cálculo errado e,
então, sentimento oposto a esse trará ele para a sua nova existência. É assim
que se efetua o progresso e essa a razão por que, na Terra os homens são desigualmente
adiantados. Uns já dispõe de experiência que a outros falta, mas que adquirirão pouco a pouco.
Deles depende o acelerar-se-lhes o progresso ou retardar-se indefinidamente.”
O homem, que ocupa uma
posição má, deseja trocá-la o mais depressa possível. Aquele, que se acha
persuadido de que as tribulações da vida terrena são conseqüência de suas imperfeições, procurará
garantir para si uma nova existência menos penosa e esta idéia o desviará mais depressa da
senda do mal do que a do fogo eterno, em que não acredita.
196. Não podendo os
Espíritos aperfeiçoar-se, a não ser por meio das tribulações da existência corpórea,
segue-se que a vida material seja uma espécie de crisol ou de depurador, por onde têm
que passar todos os seres do mundo espírita para alcançarem a perfeição?
“Sim, é exatamente isso.
Eles se melhoram nessa provas, evitando o mal e praticando o bem; porém,
somente ao cabo de mais ou menos longo tempo, conforme os esforços que empreguem;
somente após muitas encarnações ou depurações sucessivas, atingem a finalidade para
que tendem.”
a) - É o corpo que influi
sobre o Espírito para que este se melhore, ou o Espírito que influi sobre o corpo?
“Teu Espírito é tudo; teu
corpo é simples veste que apodrece: eis tudo.”
O suco da vide nos oferece
um símile material dos diferentes graus da depuração da alma. Ele contém o licor que se chama espírito ou
álcool, mas enfraquecido por uma imensidade de matérias estranhas, que lhe alteram a
essência. Esta só chega à pureza absoluta depois de múltiplas destilações, em cada uma das
quais se despoja de algumas impurezas. O corpo é o alambique em que a alma tem
que entrar para se purificar. Às matérias estranhas se assemelha o perispírito, que
também se depura, à medida que o Espírito se aproxima da perfeição.
Sorte das crianças depois
da morte
197. Poderá ser tão
adiantado quanto o de um adulto o Espírito de uma criança que morreu em tenra idade?
“Algumas vezes o é muito
mais, porquanto pode dar-se que muito mais já tenha vivido e adquirido maior
soma de experiência, sobretudo se progrediu.”
a) - Pode então o
Espírito de uma criança ser mais adiantado que o de seu pai?
“Isso é muito freqüente. Não
o vedes vós mesmos tão amiudadas vezes na Terra?”
198. Não tendo podido
praticar o mal, o Espírito de uma criança que morreu em tenra idade pertence a
alguma das categorias superiores?
“Se não fez o mal,
igualmente não fez o bem e Deus não o isenta das provas que tenha de padecer. Se for um
Espírito puro, não o é pelo fato de ter animado apenas uma criança, mas porque já
progredira até a pureza.”
199. Por que tão
freqüentemente a vida se interrompe na infância?
“A curta duração da vida da
criança pode representar, para o Espírito que a animava, o complemento de existência
precedentemente interrompida antes do momento em que devera terminar, e sua
morte, também não raro, constitui provação ou expiação para os pais.”
a) - Que sucede ao
Espírito de uma criança que morre pequenina?
“Recomeça outra existência.”
Se uma única existência
tivesse o homem e se, extinguindo-se-lhe ela, sua sorte ficasse decidida para a
eternidade, qual seria o mérito de metade do gênero humano, da que morre na infância, para
gozar, sem esforços, da felicidade eterna e com que direito se acharia isenta das
condições, às vezes tão duras, a que se vê submetida a outra metade?
Semelhante ordem de coisas
não corresponderia à justiça de Deus. Com a reencarnação, a igualdade é real para todos.
O futuro a todos toca sem exceção e sem favor para quem quer que seja. Os retardatários
só de si mesmos se podem queixar. Forçoso é que o homem tenha o merecimento de seus atos,
como tem deles a responsabilidade.
Aliás, não é racional
considerar-se a infância como um estado normal de inocência.
Não se vêem crianças dotadas
dos piores instintos, numa idade em que ainda nenhuma influência pode ter tido a
educação? Alguns não há que parecem trazer do berço a astúcia, a felonia, a perfídia, até
pendor para o roubo e para o assassínio, não obstante os bons exemplos que de todos os
lados se lhes dão? A lei civil as absorve de seus crimes, porque, diz ela, obraram sem
discernimento. Tem razão a lei, porque, de fato, elas obram mais por instinto do que
intencionalmente. Donde, porém, provirão instintos tão diversos em crianças da mesma idade,
educadas em condições idênticas e sujeitas às mesmas influências? Donde a precoce
perversidade, senão da inferioridade do Espírito, uma vez que a educação em nada
contribuiu para isso? As que se revelam viciosas, é porque seus Espíritos muito pouco hão
progredido. Sofrem então, por efeito dessa falta de progresso, as conseqüências , não dos atos
que praticam na infância, mas dos de suas existências anteriores. Assim é que a
lei é uma só para todos e que todos são atingidos pela justiça de Deus.
Sexo nos Espíritos
200. Têm sexos os
Espíritos
“Não como o entendeis, pois
que os sexos dependem da organização. Há entre eles amor e simpatia, mas
baseados na concordância dos sentimentos.”
201. Em nossa existência,
pode o Espírito que animou o corpo de um homem animar o de uma mulher e
vice-versa?
“Decerto; são os mesmos os
Espíritos que animam os homens e as mulheres.”
202. Quando errante, que
prefere o Espírito; encarnar no corpo de um homem, ou no de uma mulher?
“Isso pouco lhe importa. O
que o guia na escolha são as provas por que haja de passar.”
Os Espíritos encarnam como
homens ou como mulheres, porque não têm sexo.
Visto que lhes cumpre
progredir em tudo, cada sexo, como cada posição social, lhes proporciona provações e
deveres especiais e, com isso, ensejo de ganharem experiência.
Aquele que só como homem
encarnasse só saberia o que sabem os homens.
Parentesco, filiação
203. Transmitem os pais
aos filhos uma parcela de suas almas, ou se limitam a lhes dar a vida animal a que,
mais tarde, outra alma vem adicionar a vida moral?
“Dão-lhes apenas a vida
animal, pois que a alma é indivisível. Um pai obtuso pode ter filhos inteligentes e
vice-versa.”
204. Uma vez que temos
tido muitas existências, a nossa parentela vai além da que a existência atual nos
criou?
“Não pode ser de outra
maneira. A sucessão das existências corporais estabelece entre os Espíritos ligações
que remontam às vossas existências anteriores. Daí, muitas vezes, a simpatia que vem a
existir entre vós e certos Espíritos que vos parecem estranhos.”
205. A algumas pessoas a
doutrina da reencarnação se afigura destruidora dos laços de família, com o
fazê-los anteriores à existência atual.
“Ela os distende; não os
destrói. Fundando-se o parentesco em afeições anteriores, menos precários são os laços
existentes entre os membros de uma mesma família. Essa doutrina amplia os deveres
da fraternidade, porquanto, no vosso vizinho, ou no vosso servo, pode achar-se um Espírito a
quem tenhais estado presos pelos laços da consangüinidade.”
a) - Ela, no entanto,
diminui a importância que alguns dão à genealogia, visto que qualquer pode ter tido
por pai um Espírito que haja pertencido a outra raça, ou que haja vivido em condição muito
diversa.
“É exato; mas essa
importância assenta no orgulho. Os títulos, a categoria social, a riqueza, eis o que esses
tais veneram nos seus antepassados. Um, que coraria de contar, como ascendente, honrado
sapateiro, orgulhar-se-ia de descender de um gentil-homem devasso. Digam, porém, o que
disserem, ou façam o que fizerem, não obstarão a que as coisas sejam como são, que
não foi consultando-lhes a vaidade que Deus formulou as leis da Natureza.”
206. Do fato de não haver
filiação entre os Espíritos dos descendentes de qualquer família, seguir-se-á que
o culto dos avoengos seja ridículo?
“De modo nenhum. Todo homem
deve considerar-se ditoso por pertencer a uma família em que encarnaram
Espíritos elevados. Se bem os Espíritos não procedam uns dos outros, nem por isso menos
afeição consagram aos que lhes estão ligados pelos elos da família, dado que muitas
vezes são atraídos para tal ou qual família pela simpatia, ou pelos laços que anteriormente se
estabeleceram. Mas, ficai certos de que os vossos antepassados não se honram com o culto
que lhes tributais por orgulho. Em vós não se refletem os méritos de que eles gozem,
senão na medida dos esforços que empregais por seguir os bons exemplos que vos deram.
Somente nestas condições lhes é grata e até mesmo útil a lembrança que deles
guardais.”
NOTA: (1) Segundo os Espíritos, de
todos os mundos que compõe o nosso sistema planetário, a Terra é
dos de habitantes menos adiantados, física e moralmente. Marte lhe estaria ainda abaixo,
sendo-lhe Júpiter superior de muito, a todos os respeitos. O Sol
não seria mundo habitado por
seres corpóreos, mas simplesmente um lugar de reunião dos Espíritos superiores, os
quais de lá irradiam seus pensamentos para os outros mundos, que eles dirigem por intermédio
de Espíritos menos elevados, transmitindo-os a estes por meio do fluido universal.
Considerado do ponto de vista da sua constituição física, o Sol seria um foco na alma primitiva, a
inteligência e a vida se acham no estado de gérmen.”
A vida do Espírito, em seu
conjunto, apresenta as mesmas fases que observamos na vida corporal. Ele passa
gradualmente do estado de embrião ao de infância, para chegar, percorrendo sucessivos
períodos, ao de adulto, que é o da perfeição, com a diferença de que para o Espírito não há
declínio, nem decrepitude, como na vida corporal; que a sua vida, que teve começo, não terá
fim; que imenso tempo lhe é necessário, do nosso ponto vista, para passar da infância
espírita ao completo desenvolvimento; e que o seu progresso se realiza, não num único
mundo, mas vivendo ele em mundos diversos. A vida do Espírito, pois, se compõe de um série
de existências corpóreas, cada uma das quais representa para ele uma ocasião de
progredir, do mesmo modo que cada existência corporal se compõe de uma série de dias, em cada
um dos quais o homem obtém um acréscimo de experiência e de instrução. Mas, assim como,
na vida do homem, há dias que nenhum fruto produzem, na do Espírito há existências
corporais de que nenhum resultado colhe, porque não as soube aproveitar.